Artigo - Tecnologia e Educação.
O
final deste milênio tem se caracterizado por grandes transformações
tecnológicas, com especial ênfase nos sistema de comunicação. A comunicação
deixa a ser de massa e passamos a viver a possibilidade de uma comunicação mais
interativa. Do ponto de vista tecnológico cada dia mais avançamos na direção
desta interatividade. Para nós, brasileiros, pelo menos por enquanto, isso se
dá apenas de forma potencial. Temos uma forte concentração na propriedade dos
meios de comunicação e informação. Com a possibilidade de entrada de capital
estrangeiro nas empresas dos sistemas de comunicação e informação, observamos
acontecer no Brasil o mesmo que já vem ocorrendo em quase todo o mudo: fusões
bilionárias, megafusões e sinergias entre empresas que atuam em diversos ramos
do mundo comunicacional, ou seja, editoras, órgãos de imprensa, emissoras de
rádio e televisão - broadcast,
assinatura cabo ou satélite - telefonia e até mesmo provedores de conexão
Internet. O movimento é planetário. No Brasil, as classes A e B já possuem pelo
menos a possibilidade de acompanhar um aumento significativo no número de
canais de televisão. Este aumento não corresponde, no entanto, a um aumento de
opções. Primeiro porque as opções são de fato, muito pequenas. O que vemos na
verdade são infindáveis repetições de programas, de qualidade, no mínimo,
questionáveis. Segundo, o que para mim é o mais importante, a produção destes
produtos ainda continua sendo feito de forma muito centralizada. São poucos as
possibilidades de produção da diversidade de imagens e sons que conhecemos por
este Brasil afora.
São
estes elementos importantes que precisam ser considerados e um passo
significativo na transformação desta realidade é a democratização da
informação. Esta democratização passa, no entanto, por vários caminhos e
instâncias. Um deles é, sem dúvida, a de termos um legislação forte de tal forma a garantir,
nestes momentos de privatizações, acesso aos meios àqueles que não tem poder
aquisitivo para adquirir o ingresso deste mundo de comunicação generalizada. Em
julho do ano passado foi aprovada a Lei número 9.472 conhecida como Lei Geral
de Telecomunicações (LGT). Nesta lei foi introduzido um dispositivo muito
importante chamado Fundo para Universalização de Serviços. O artigo 81 detalhou
que este fundo deveria ser criado especificamente para essa finalidade, para o
qual contribuiriam prestadoras de serviços de telecomunicações (publicas e
privadas). Em outras palavras, um fundo - que ainda não foi regulamentado! -
com o objetivo de viabilizar o acesso aos meios e serviços. Uma das primeiras
ideias presentes seria o de usar estes recursos para conectar escolas,
bibliotecas, hospitais, em todo o Brasil, de tal forma a viabilizar, seja
através da telefonia como do acesso à rede mundial Internet, que as famílias
que hoje não dispõem destes meios privadamente - em suas próprias casas -
possam dele dispor na escola pública (e gratuita) de seu próprio bairro.
Mas somente o acesso ao meio não garante nada.
Precisamos trabalhar paralelamente a esta instância mais política, na busca de
fortalecermos as culturas locais para que possamos disponibilizar estas
informações em todos os meios disponíveis. Não resta a menor dúvida que
projetos de informatização de escolas públicas em andamento já podem se
constituir passos significativos nesta direção. Mas isso, se estes objetivos
forem prioritários e estiverem presentes. Como digo sempre, não precisamos de
Internet nas escolas mas sim de escolas na Internet. Parece uma diferença pequena
mas não é! É uma diferença básica de concepção. Fortalecer as culturais locais
e disponibilizá-las na rede mundial, é fortalecer o cidadão. É permitir que
cada cidadão seja sujeito de sua própria história e de uma história coletiva
que estará sendo construída por todos. Não resta a menor dúvida que para esta
tarefa muitas instâncias precisam estar envolvidas. Os projetos estão cada dia
mais presentes nas universidades, escolas públicas e organizações
não-governamentais. Só com exemplos levantados de memória em Salvador/Bahia,
vemos que há poucos dias foi inaugurado um Comitê para a Democratização da
Informática (CDI) no bairro popular da Massaranduba; a Prefeitura Municipal
esforça-se para que as escolas públicas municipais tenham suas conexões
Internet; a UFBA tem um projeto de um CyberParque Anísio Teixeira, construído
em conjunto com os professores da Escola Parque, que nunca saiu da papel por
falta de recursos. O que vemos, portanto, é que sem uma legislação adequado e
sem incentivos e apoios, sem um envolvimento mais efetivo das classes empresarias,
estes projetos não sairão do papel. Serão apenas ideias. São muitos os caminhos
e as velocidades deste caminhar. Mas é urgente que comecemos a avançar nesta
direção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário